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Recuperação do sonho e da esperança
Por Antonio Carlos Ienaco Dourado
Convivi muitos anos com óculos de grau. Entre 1987 e 1998, arrisquei-me a usar vários óculos, adquiridos em bancas de camelô, buscando um autoconvencimento da necessidade de obter uma receita médica. Daquele tempo até nove de abril de 2015, data da cirurgia no primeiro olho, providenciei o aviamento de quatro pares de lentes, com aumentos de grau cada vez maiores e cada vez mais insatisfatórios.
Nas atividades diárias, como a leitura de um jornal, o trabalho diante de um monitor ou a travessia de uma rua, o hábito substituía a acuidade. Isto é, para visão de perto ou de longe, o desconforto dos óculos inadequados podia ser tolerado. Porém, para visão a meia distância, eventualmente necessária, como o acompanhamento do trabalho no monitor de colega sentado próximo, o reconhecimento de um rosto de passagem na mesma calçada ou a atenção a uma TV, em local público, tornavam-se, com frequência, irritantes ou estressantes. Percebi, então, de forma definitiva, em exames oftalmológicos periódicos e obrigatórios, agendados pela empresa em que trabalho, a necessidade de cirurgia de catarata.
A Clínica Focus estava entre as opções disponibilizadas pelo meu plano de saúde. O Dr. Alberto Bensoussan era um dos três oftalmologistas disponíveis no momento da consulta. Depois descobri que a escolha de um deles seria indiferente, pois seus pareceres são sempre homologados pelos outros dois médicos, o que proporciona mais segurança. Decidi pela cirurgia na conversa esclarecedora durante a consulta. Da mesma forma, me foram claramente apresentadas as opções de lentes intraoculares que poderia receber. Fiz a escolha das lentes adequadas, após considerar, com bastante calma, as vantagens e desvantagens de cada uma das alternativas.
As duas cirurgias aconteceram com intervalo de 21 dias. Na primeira, fiquei ansioso e receoso. Com excesso de cuidados, hospedei uma amiga de outra cidade, que estava de férias; ela acompanhou-me no dia da cirurgia. Porém, as atenções e eficiência dedicadas por todos os que de mim cuidaram, desde a recepção no centro cirúrgico, até a acomodação na maca, especialmente da médica anestesista, Dra. Ana Farinha, deram a mim tranquilidade e confiança. Senti-me tão bem, imediatamente após a operação, que fomos, minha amiga e eu, caminhando da clínica a uma cafeteria próxima, onde lanchamos e conversamos por quase uma hora antes do retorno à minha casa. A amiga permaneceu ao meu lado durante o período de recuperação, que ocorreu exatamente como fui previamente preparado.
Para a segunda operação, senti-me mais confiante. No dia da cirurgia, tive a companhia de outra amiga, que saiu do trabalho, levou-me de volta à casa e retornou aos seus afazeres. Eu próprio também trabalhei na manhã daquele dia.
Em ambas as intervenções, chamou-me a atenção a imediata percepção dos efeitos benéficos da mudança visual. Passada a ação da anestesia, tudo ficou mais nítido, mais brilhante e mais colorido.
A despeito desse benefício, no convalescimento das duas operações, percebi algumas diferenças desfavoráveis após a segunda intervenção, talvez porque não tenha me preparado como o fiz para a anterior; talvez porque o último olho operado tenha um pequeno defeito de nascença. Mas, nos dois pós-operatórios, o que mais me desagradou foi a imobilidade recomendada. Aconselho às pessoas que venham a passar pelas cirurgias que evitem excesso de confiança, executando exatamente os mesmos procedimentos antes e após a primeira e a segunda operações.
Tenho uma avaliação muito positiva sobre as vantagens da minha recuperação plena da saúde visual. O aumento do bem estar geral é tão significativo que me senti encorajado a me casar pela primeira vez, já próximo dos 70 anos de idade. Nesse sentido, as cirurgias significaram uma sobrevida, não exatamente pelo aumento da longevidade, mas pela recuperação do sonho e da esperança.